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Força-tarefa garante novo coração ao pequeno Vitor

22 Fev 2021 - Reportagem por Millena Grigoleti no Diário da Região.

O menino de 6 anos entrou na fila por um coração em janeiro e seu estado de saúde era grave. Graças à solidariedade de uma família de Ribeirão Preto, expectativa é que logo ele tenha vida normal.

Vitor Ribas da Silva, de 6 anos, estava internado há três meses no Hospital da Criança e Maternidade (HCM), de Rio Preto. Morador de Presidente Venceslau, passou por Presidente Prudente para tratamento para a doença que tinha no coração, mas precisava de uma ajuda ainda mais especializada. Vitor foi diagnosticado com miocardiopatia dilatada, doença que faz o coração perder a capacidade de bombear sangue de forma adequada, pois sua musculatura enfraquece, afina e dilata. Os medicamentos não estavam mais funcionando, então o pequeno foi incluído na fila de transplante em janeiro.

A espera terminou neste domingo, às 5h30 - de madrugada porque o milagre não tem hora para acontecer. Milagre porque uma família, em meio à dor de perder um jovem de 24 anos, que teve morte encefálica após sofrer um engasgo, juntou forças para autorizar a doação de órgãos e dar vida a um menino que nem conheciam. Outros órgãos do moço também foram doados. Vitor, com 20,4 quilos, recebeu o coração de um rapaz de 51 quilos - essa diferença é aceita porque o órgão que batia no peito do menino, doente, era bem maior do que o normal.

Ulisses Croti, cirurgião e chefe do CardioPedBrasil, equipe do HCM, foi para Ribeirão Preto captar o coração, no Hospital das Clínicas. Como o órgão não pode ficar mais do que quatro horas fora do corpo, sem circulação sanguínea, foi necessário o apoio do helicóptero Águia, da Polícia Militar, que segundo o médico foi essencial para agilizar o processo e garantir o sucesso de tudo.

O coração do doador foi paralisado às 14h30. Quinze minutos depois, aproximadamente, o Águia saiu de Ribeirão Preto, chegando a Rio Preto pouco antes das 16h. Às 17h11, o coração já batia em Vitor - um tempo de isquemia (fora do corpo) de 161 minutos. A cirurgia terminou por volta das 18h, quando o paciente foi encaminhado para a UTI.

Às 9h30 desta segunda-feira, 22, Vitor foi extubado e passou a respirar sem o auxílio de aparelhos. Ele ainda inspira cuidados, pois sua condição antes da cirurgia era bastante crítica.

Alexandra Regina Siscar Barufi, cardiologista pediátrica do HCM, relata que o menino estava na fila desde janeiro. Ele foi a 13ª criança a receber um coração no serviço. "A gente estava tentando fazer o tratamento da insuficiência, mas não melhorou. No último mês ele tinha piorado bastante e estava bem grave. Estava cada vez mais cansado, correndo risco de vida", explica.

A perspectiva é que o coração transplantado possa durar dez anos, mas há relatos de muito mais - em 2019, Waldir de Carvalho, de Tanabi, morreu 32 anos após o transplante que recebeu. Isso é possível graças à tecnologia.

Segundo Alexandra, a expectativa é que, depois da recuperação, Vitor possa levar uma vida normal, com brincadeiras e esporte. "Ele tem que usar a vida toda medicações para controle de rejeição, vai ter a imunidade mais baixa, então a gente ensina para lavar as mãos, tomar cuidado para não ficar doente", afirma a médica.

Quanto menor a criança, menores as chances de encontrar um coração compatível. No mês passado, uma menina de 6 meses faleceu no HCM, à espera de um transplante. "Uma das grandes barreiras que enfrentamos é a falta de doadores. A gente tem que ser extremamente grato e reconhecer o esforço tremendo que essa família fez para doar os órgãos do seu filho que estava sendo perdido", pontua Ulisses Croti, sobre a família do doador. "Tem que ter um reconhecimento, um agradecimento por todo esse esforço, toda essa grandeza e essa responsabilidade social que essa família de Ribeirão Preto teve."

Fila estadual e pandemia

A fila de transplante é estadual, por logística, já que existe um tempo limite que um órgão pode ficar fora do corpo - os menos tolerantes são o coração e o pulmão.

Quando um órgão fica disponível, a central reguladora procura pelo receptor compatível, levando em conta informações como tipo sanguíneo e peso do doador e de quem está precisando do órgão. Não é levada em conta a data em que a pessoa entrou na fila, mas sim o seu estado de saúde, ou seja, os mais graves têm preferência. É feito contato com o hospital que está responsável pelo paciente, para verificar se ele está disponível para a cirurgia.

Há centros que não são credenciados para fazer o transplante, mas onde os órgãos podem ser captados - o transplante é uma cirurgia complexa, que demanda uma estrutura grande, mas a captação depende apenas de uma UTI, depois que foi feito o diagnóstico de morte cerebral.

Como o Diário já mostrou, a pandemia de Covid-19 impactou diretamente os serviços de transplante. A oferta de órgãos diminuiu, pois é preciso ter certeza que o doador não está contaminado pela Covid, com exames PCR (do cotonete) e de imagem; além disso, as UTIs estão lotadas, então fica mais difícil destinar leitos aos transplantados. Há ainda o receio de que o paciente recém-transplantado, que está com a imunidade mais baixa, contraia coronavírus, porque por causa dos remédios que ele toma para impedir a rejeição do órgão seu sistema imune fica comprometido. Também diminuiu o fluxo de pacientes fazendo exames para entrar em fila, por causa da pandemia. (MG)

Como tudo aconteceu

Passo a passo O pequeno Vitor Ribas da Silva, de 6 anos, está na fila por um transplante de coração desde janeiro. Com insuficiência cardíaca grave, ele estava internado há três meses no HCM, mas os tratamentos medicamentosos já não estavam mais funcionando e o pequeno estava cada vez mais cansado. O menino é morador de Presidente Venceslau e passou por Presidente Prudente para tratamento de uma miocardiopatia dilatada, mas precisava de cuidados mais específicos. A doença faz com que o coração perca a capacidade de bombear sangue adequadamente e a musculatura enfraquece, afina e dilata. Às 05h30 de domingo, a equipe CardioPedBrasil, de Rio Preto, recebeu a notícia de que havia um coração disponível para Vitor, em Ribeirão Preto. Ele veio de um rapaz de 24 anos, que teve morte encefálica após sofrer um engasgo. O rapaz pesava 50 quilos, mas como a doença de Vitor faz com que o coração dilate, ele poderia receber um órgão de uma pessoa com até três vezes o seu peso, que é de 20,4 quilos. Como o coração pode ficar no máximo quatro horas fora do corpo, foi necessário o apoio do Águia, da Polícia Militar, para dar agilidade ao transporte. Depois de captar o coração às 14h30 em Ribeirão Preto, o coração foi encaminhado ao Hospital da Criança e Maternidade (HCM). Vitor já estava preparado, no centro cirúrgico. A equipe implantou o órgão em Vitor às 17h11, totalizando 161 minutos de coração parado. Vitor foi a 13ª criança a receber um coração em Rio Preto. Por volta das 18h, ele chegou à unidade de terapia intensiva. Vitor ainda está em UTI e inspira cuidados, pois seu estado era bastante grave e a cirurgia de transplante é complexa, mas o procedimento foi um sucesso e ele já respira sem ajuda de aparelhos e está se alimentando. Ele vai precisar tomar, pelo resto da vida, medicamentos imunossupressores, que alteram o funcionamento do sistema imunológico para que o organismo não rejeite o órgão. Ele poderá levar uma vida normal, de brincadeiras, passeios e esportes, porém com mais cuidados, como lavagem constante das mãos e evitando ao máximo ficar doente, já que seu sistema imunológico é comprometido por causa dos medicamentos e não consegue combater adequadamente as infecções. A estimativa é que o novo coração dure dez anos, mas tecnologias mais avançadas têm proporcionado uma longevidade maior aos órgãos transplantados.

 

 

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